sábado, 20 de fevereiro de 2010

Nem tudo que é bom pros EUA é bom pro Brasil. Piada, principalmente.

Sobre a análise que o Danilo Gentili faz, em seu blog, do humor que se faz nos Estados Unidos e do que se faz no Brasil:

Peralá! Vamos combinar: a maioria dos humoristas americanos faz piada sem graça! Sem graça pra nós, brasileiros, que temos uma cultura bem diversa e uma moral muito mais escrachada que os ianques brancos, protestantes e caretas do Norte. Se o nosso humor é baseado no trocadilho, no bordão e na cambalhota, o deles é baseado em escrachar o Bush (pra nós, isso seria bater em cachorro morto!) ou qualquer político ou celebridade viva. E daí? Não também fazemos isso aqui. O problema é que nossas celebridades e os nossos políticos não têm senso de humor (nem de ridículo), ou são burros demais pra entender a piada!

Não dá pra nortear o nosso humor pelo humor que eles fazem lá! O nosso é muito melhor! Funciona com o nosso público, com a nossa cultura. Escracho por escracho, sou muito mais Henfil - que os americanos não entenderam e nos repatriaram! Não tenho mais saco é pra esse discurso antigo e anacrônico de que tudo que é bom para os americanos é bom para o Brasil! Pô, me poupem! E humorista bom ou ruim, há em qualquer lugar, aqui ou lá, na Globo ou na Record, no blog ou no tuíter. Não é por aí. E digo mais: o melhor humor americano, nem americano é: é judeu. Woody Allen, Mel Brooks, Art Buchwald, Groucho Marx, Lenny Bruce (que, lá, foi processado e condenado por obscenidade) e tantos outros, são prova disso.

Vamos combinar outra coisa: a moral norteamericana - parafraseando o Macaco Simão – é uma piada pronta! Quando é que a maior celebridade do esporte brasileiro mobiliza as tevês do país inteiro pra ler um pronunciamento e dizer que pulou a cerca? Lá nos EUA, o Tiger Woods causou uma comoção nacional. Imagine se ele fosse parar numa delegacia só porque não pagou o combinado com uns travecos num motel da Barra!

Não dá pra comparar. Somos o país do Seu Casseta e do Agamenon, do Chico e do Jô, do Jaguar e do Millôr, do Bruno Mazzeo (pra não dizer que não falei dos novos) e do Leon Eliachar, do Costinha e da Dercy (esses dois últimos, nos EUA, estariam sentados ao lado de Lenny Bruce, num tribunal).

E o Dave Letterman? Quem (no Brasil, não sendo americano), em sã consciência, consegue achar graça em seus pretensos trocadilhos e frases “espirituosas”? Quem consegue rir espontaneamente, sem um regente de claque ou um aviso luminoso indicando que aquilo que acabaram de ouvir era uma piada? E eu estou falando das piadas que são universais, que, por suas citações ou referências, podem fazer sentido para nós (piadas sobre Superbowl, por exemplo, estão fora).

E alguém já parou pra pensar por que toda soap opera cômica americana tem bg de claque? Pra “vender” pro mundo inteiro que aquilo é engraçado – e, muitas vezes, não é. E até acaba prejudicando o que verdadeiramente é. (Nunca entendi, por exemplo, pra que aquele antigo seriado M*A*S*H precisava de claque ao final de cada frase falada por alguma personagem...)

Resumo da ópera: cada roca com seu fuso, cada povo com seu uso. E chega desse terceiromundismo idiota de achar sempre que coca-cola é melhor que guaraná. Porque, afinal, o Pelé jogava muito mais que o... o... o quem mesmo lá deles?